7 de mai. de 2008

Justiceiro de Fafe

O muro de Berlim atingiu-me em cheio na maioridade. E ninguém pode assistir impassível ao desmoronar de um sonho (ou de uma ilusão) numa idade em que tudo o que temos são sonhos. E gajas, claro, mas isso é outra história. As leituras dos anarquismos em livros mal impressos e de papel rasca, e as pequenas experiências de convivência em grupos que o professavam (alternadas com o mais vicioso burguesismo); as leituras e os ensinamentos familiares dos princípios da revolução francesa - liberdade, igualdade, fraternidade - com outros, comunistas, e os princípios dos direitos humanos alargados; e as consequências de uma educação religiosa de meia-dúzia de anos fizeram-se sentir nessa maioridade como sinais para me focar em coisas mais concretas: casa, emprego, trabalho, salário, festarolas, gajas... Contudo, os princípios ficam. São eles que nos moldam - além de outros "males" como os genes e a personalidade/educação, que ficam para os cientistas.

Dizem os espanhóis que "se veía venir" e a tomada de consciência que, se calhar, o mundo não ia mudar assim tanto com a queda do muro fez-se aos poucos, com as manifestações na ponte 25 de Abril, as barricadas de operários nas velhas zonas industriais - onde décadas antes homens-bons como me julgo liam os mesmos livros que li mais novo - (94), os bairros revoltados, os estudantes a pedir abertura do ensino (toda a década de 90), Seattle (99), a impunidade dos velhos senhores do portugalzinho, as guerras todas e finalmente a internet e o nascimento da minha, por assim dizer, descendência fizeram-me regressar aos princípios.

Como vivo de coisas concretas e não de ilusões -- por isso a única certeza que posso ter é a não existência de Deus e na glória suprema do Benfica, até ou sobretudo nas derrotas -- decidi pegar na moca para defender os princípios. Por isso estou aqui. Por isso e porque acho que vai ser uma borga claro.

Ah! não sou de Fafe, creio aliás que nunca lá fui.

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