4 de jun. de 2008

Mudança conservadora

John McCain teve ontem uma das piores prestações de sempre no que à estética discursiva diz respeito. Concentrado no teleponto, com gestos mecânicos (mais do que os que já fazem parte da sua movimentação normal) e com um riso forçado no final de cada frase, McCain não parecia um candidato à presidência do maior país do mundo. Felizmente, e como se dizia ontem no especial da CNN, não são os discursos que ganham eleições.
No entanto, o conteúdo deste discurso foi muito importante para se começar a perceber o que se vai passar a partir de agora na campanha. Num ataque cerrado a Obama, McCain falou de mudança. Colocou o candidato democrata ao lado do establishment americano, conotando-o com políticas de outros tempos. Usou o slogan do seu adversário para repetir sistematicamente "and that's not change we can believe in", frase que certamente marca quem o ouviu. Foi abrangente nas políticas, falou para o povo americano e contrariou a mudança das políticas de Obama, quase uma a uma. Tentou mostrar que há uma diferença entre a mudança e o risco e que os americanos sabem isso, que são sensatos e que esse será o caminho que querem seguir.
Acabou por acusar Obama de não acreditar nas pessoas, nas suas escolhas. Garante, desta forma, que o candidato democrata quer que seja o Estado a tomar essas decisões pelos cidadãos. Acusa-o também de irresponsabilidade em relação à guerra mas evita que o tema Iraque tome conta do seu discurso preferindo falar de segurança e estabilidade.
A mudança que McCain propõe está na base da sua diferença com a administração Bush e é aqui que a sua campanha deverá investir nos próximos tempos.
Acima de tudo fala com o povo americano e raramente se centra em si mesmo, ao contrário dos democratas que tendem a falar no seu sonho e na sua capacidade individual de mudança.

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