3 de jun. de 2008

Tendências da nova estação

Estas últimas semanas têm sido muito intensas e engraçadas, no que à política diz respeito.
Surgiu uma moda qualquer de pedir ideias aos políticos, coisa nunca antes vista. Se bem me lembro, a única pessoa que dá normalmente ideias é Garcia Pereira. Ideias não lhe faltam.
Mas esta moda pegou à direita, e da esquerda para a direita, e da direita para o centro-direita, que é mais ou menos aquilo que nós conhecemos das ideologias dos nossos partidos. Desde então, a ideia das ideias tem sido o mote de toda a questionabilidade democrática. Quem não tem ideias não tem condições para ser líder de um partido - dizem. Que esta mania, se assim lhe posso chamar, venha da esquerda não me admira. Mas é no centro-esquerda e direita que mais me assusta este súbito interesse pelas ideias.
O Professor Cavaco Silva nunca deu uma única ideia. O Engº Guterres nunca deu uma ideia, o Dr. Durão Barroso teve sorte e nem precisou de se preocupar com ideias. Se algum deles deu ideias, nos últimos 20 anos, ninguém se lembra certamente. A sua passagem pelo governo foi política. O que é que isso significa? Eu explico. Significa não fazer ideia do que se vai herdar, avaliar dossiers e a partir daí trabalhar com aquilo em que se acredita que é o melhor caminho e conforme agrade aos mais próximos (favores, interesses, etc., etc.). Vejamos... exacto, Sócrates também.
De repente, um medo invadiu parte do eleitorado que começou louco a pedir ideias. "Vem aí Ferreira Leite. Só pensa em Finanças". Curiosamente há 30 anos que não se fala de outra coisa que não de Finanças, com alguns períodos em que falamos de "cenas sociais bué importantes". Mas, se calhar Ferreira Leite é um perigo.
Talvez eu entenda que seja um perigo para os liberais do norte que assumiram o caciquismo dos seus queridos companheiros, das suas distritais e concelhias, como um bem para a região. Talvez eu entenda, até, que seja um perigo para os teóricos universitários que vivem deslumbrados com números. Talvez seja um perigo para quem apenas quer achar que é um perigo - pelo cheiro, sei lá. Entendo tudo isso.
Mas o que eu sei é que Ferreira Leite é uma política igual a todos os outros que deixámos que nos governassem (excepto PSL que não deixámos coisa nenhuma). Falta-lhe apenas alguma técnica de debate directo.
Num momento de crise é alguém que tem os pés na terra e não anda a viajar pela sua brilhante cabeça cheia de conceitos económicos e ideias. Conhece e sabe da poda. Não precisa de ideias para nada, vai perder como os outros. No entanto, vai pôr ordem na oposição.

2 comentários:

Yuppie Boy disse...

Este post é tão sectarista quanto as posições de quem acusa.

Casca de Carvalho disse...

Como dizia Anais Nin: we see things not as they're like, but as we are, meu caro.