21 de out. de 2008

OE 2009 - O FIIAH desmontado

Sabe-se agora, ainda que não oficialmente, que os fundos para o arrendamento imobiliário praticarão rendas (em média, e a palavra média é aqui, muito perigosa) 20% inferiores ao valor da prestação paga pelas famílias. O Ministro falou em valores de renda atractivos. Serão?A resposta é talvez.
Esta medida terá mais impacto quanto maior for o prazo do empréstimo. Contas feitas, salvaguardando que os casos-tipo não passam disso mesmo e que portanto, especificidades diferentes levam a resultados diferentes, esta medida só começa a compensar verdadeiramente para empréstimos acima dos 30 anos. Tentando explicar, para empréstimos abaixo dos 25 anos, 20% da prestação (e isto no início, - vai aumentando), é para amortização do capital em divida e os restantes 80% para juros. Ou seja, pagamos 20% a mais em valor, mas abatemos 20% à divida. Tradução: abaixo dos 25 anos de empréstimo só compensa se o orçamento familiar estiver mesmo, mesmo mesmo, no limite. Já acima dos 30 anos, e de uma forma exponencial, a medida pode surtir efeitos. A percentagem de amortização de capital é tão mais baixa quanto maior for o número de anos do empréstimo e portanto, a diferença entre o que se perde em não amortizar e o que se ganha em diminuição do valor da nova renda, compensa.
Este fundo, de sigla comprida e que ainda não decorei, liberta as famílias de um outro encargo pesado para a sua bolsa. O seguro de vida, obrigatório no Crédito Habitação. Este seguro pode ser muito pesado no valor da prestação a pagar. O seu comportamento varia com a idade do titular e montante em divida do empréstimo. A idade pesa mais pelo que esta medida favorecerá mais famílias de idades mais elevadas.
Estes dois factores, parecem compensar-se. Se por um lado os jovens têm maiores prazos de empréstimo e portanto beneficiam mais, os mais velhos beneficiam grandemente com o desaparecimento do seguro.
No que toca a isenções e incentivos fiscais, a medida parece-me mais atractiva para os fundos do que propriamente para as famílias. Exceptuando-se a isenção de taxação das mais-valias, o que se poupa no IRS com a renda é o que se perde no IRS com o desaparecimento do Crédito Habitação.
O post é longo e algo técnico pelo que desde já me disponibilizo para estar, ainda mais, atento à caixa de comentários e responder a qualquer dúvida. A pressa e algum desconhecimento, faz com que também esteja aberto a correcções ou complementos.

4 comentários:

Anônimo disse...

Caro Yuppie,

Voltei, advirto-o, desde já, que será sériamente responsabilizado pela minha baixa produtividade de hoje.
Pelo que me apercebi não fui a unica a ficar curiosa com o titulo do seu post(se calhar, fui só um bocadinho mais curiosa)...tenha cuidado, alguns dos Curiosos são funcionarios públicos à espera de aumento, e com estas "modernices" da avaliação individual/desempenho...

Quanto ao post em si, vai ter que ter cuidado, se continuar a explicar este "tipo" de linguagem propositadamente blindada ao comum "das gentes", vai estar a contribuir para o fim do mito do analfabetismo do povo.
E sabe "Deus" a mossa que pode fazer um povo esclarecido...até pode começar a ver qualquer coisa mais do que é suposto e perceber "as manobras".

Cump/.

Yuppie Boy disse...

Parece que voltámos ao tempo da guerra fria. A blogosfera divide-se entre esquerda e direita. Contra ou a favor. Feminina ou masculino. Não há meio termo. A realidade parece-me bem diferente. Tudo tem de ser ponderado e a uma grande vantagem corresponde quase sempre uma desvantagem. É mais o estar contra este tipo de atitude, que me leva a escrever estes posts, que diga-se dão trabalho comó raio, do que altruismo ou palavras afins. Mas se com isso puder ser útil...

Anônimo disse...

É bem verdade o que diz, mas mais do que a bipolarização das coisas, sejam elas na blogosfera ou na sociedade, incomoda-me verdadeiramente a arrogancia do pretensiosismo de que "as novas medidas" vão ser aceites sem que "alguem" as veja como aquilo que realmente são...uma bela operação de cosmética.
Sabe em que se vai traduzir os resultados? Mais do mesmo.
Quando o indice para aferir tantas das nossas insuficiências e carencias, no que toca a rendimento -refiro-me ao salario minimo nacional- não chega para garantir uma habitação arrendada condigna, diga-me para que servem estas medidas.
Incentivo ao arrendamento?Brincamos ou brincam os senhores do Governo - só podem estar crentes da ignorancia de uma sociedade inteira? Estarei errada?

Cump/

Anônimo disse...

Esqueçem-se os Senhores do Governo (não ignoro que a habitação é sem duvida um dos pilares do equilibrio economico-social da população)que o actual estado de coisas foi criado, não apenas pela descida "do preço do dinheiro"-possibilidades de crédito para individuos com baixo rendimento -, mas tambem por uma crescente especulação no mercado de arrendamentos, que levou a que a opção compra fosse preferivel à opção arrendamento?
Ignorarão o estado do patrimonio imobiliario privado, basta observar uma cidade como o Porto?

Cump/