6 de jan. de 2009

A inflação e a montanha-russa

A estimativa rápida do Eurostat colocou hoje a inflação nos 1,6%, valor abaixo do esperado pelos mercados e distante dos 2% pretendidos por Trichet. Para este valor, contribuiu e muito, a baixa nos produtos petrolíferos mas tal baixa não justifica tudo. A economia está a abrandar e isso começa-se a reflectir nos preços, - nem tudo são espinhos nas crises. A preocupação do BCE, que lembro aumentou as taxas de juro no ano passado para conter a inflação, é agora criá-la. Têm a arma e parecem não ter medo da usar: depois de três cortes entre Outubro e Dezembro do ano passado, Trichet pode voltar a mexer na taxa directora e baixá-la, criando os "incentivos" ao consumo e ao investimento. Mas em vez de fomentar a economia faz disparar ainda mais os alarmes, de particulares e empresas. Este voluntarismo excessivo abala mais do que sustenta. Cria desconfiança e faz tremer, até os mais incautos. Em vez de fazer gastar, faz poupar pois cria receios face à conjuntura, o que numa altura de expansão económica seria benéfico mas não agora, altura em que investimento e consumo são tão necessários quanto pão para a boca. Em momentos de expansão, num passado recente, verificou-se o contrário e o consumo e o investimento cresceram exponencialmente, alavancados no crédito e ficando sem qualquer almofada de suporte. Foi neste cenário que o BCE fez a sua última subida nas taxas, mais por reacção do que por acção, que é no fundo a grande conclusão deste post. Não há política preventiva e pensada antecipadamente. Ao invés, apagam-se fogos e espera-se que o ciclo inverta. A economia está sedenta de confiança, não de dinheiro. Parece-me mais importante um discurso firme com rumo do que medidas voluntaristas que mudam do dia para a noite.

2 comentários:

Anônimo disse...

Você paga prestação da casa?

Yuppie Boy disse...

É um raciocinio rebuscado esse que está a fazer. Em nenhum lado afirmo ser contra as baixas de juro, nesta altura entenda-se. O que digo, é que sou contra uma olitica de reacção por oposição a uma politica de acção. Ainda que Trichet - o paralelismo pode ser feito com Sócrates - diga que o BCE age por antecipação, tal não é verdade. Uma cronolgia da crise recente prova que imediatamente antes de qualquer medida existe um anúncio de novas estimativas. As medidas estão sempre um passo atrás. É quase como atirar a uma ave e apontar para o local onde ela está desprezando o tempo de deslocação da bala.

Se Trichet volta a baixar a taxa directora, em teoria, dá um empurrão ao consumo quanto mais não seja porque diminui o prémio dos depósitos. Podemos ainda juntar o excedente que fica da prestação da casa ou do carro (se o juro estiver indexado). Mas no final, se não confiarmos no amanhã, vamos guardar o dinheiro... debaixo do colchão se preciso fôr.