16 de dez. de 2008

Esquerda alegre (2)

Uma união à esquerda, com o consequente "empurrão" do partido mais central do espectro esquerda para a direita é, curiosamente, uma das principais evoluções no tradicional "sistema de partidos" das democracias ocidentais que o politólogo Maurice Duverger considerou vir a acontecer no fim do séc. XX / início do séc. XXI. Chamou-lhe, do estrito ponto de vista da ciência política, o "esquerdismo".

Não falou Duverger, naturalmente, de qualquer "direitismo" - espectro político este cujos partidos demonstram um maior "potencial mútuo de intimidação" e um potencial de coligação mais frágil.

Portugal é, contudo, um mau laboratório para testar estas teorias. Vejamos:

No que à inexistência de centrismo-direitismo respeita, constata-se que, das duas ADs que contamos, ambas foram abaladas, respectivamente, por um acidente/atentado e por uma fuga indiscreta de informação confidencial - vulgo, conversa privada - por parte de um (menos) líder que precipitou a demissão do outro (mais) líder.

Da primeira AD não se retira, naturalmente, qualquer ilação, senão úma incógnita a variadíssimos níveis.
Da segunda AD resultará , talvez, a lição segundo a qual dois jogadores políticos palacianos - como os líderes em questão - iriam acabar por se tramar mutuamente, seja através de conversas privadas ou invenções de vichyssoises virtuais degustadas em jantares que não existiram.

Em segundo lugar, no que respeita à confirmação do "esquerdismo" - independentemente de admitirmos que o PS puxa à direita, restando saber se foi empurrado ou se para lá caminhou - resta a questão da "união". Qual união?

Dois tópicos:

- O PCP está, como hoje me diziam, mais carecido de assegurar a auto-preservação do que empenhado em ganhar novos caminhos. Que bonita, aliás, a semelhança entre comunistas e igreja católica.

- Manuel Alegre e Francisco Louçã são como o dia e a noite. Imagina-se que uma conversa entre ambos será de surdos.
Louçã não diz anti-fascistas (anti-faxistas), percebe de economia, não pesca nada de espingardas winchester e castas de vinhos e demonstra uma falta de ética do tamanho de uma casa em qualquer debate que participe. É pragmático, ou assim o pensa que é.

Alegre deve pescar - para além de caçar - não percebe de economia e carrega tanta ética em tudo o que diz ao ponto de ser extraordinariamente cansativo. Vive do outro lado do mundo do pragmático. É retórico.

União na diversidade, diria Duverger? Só se for unidade...na diversão.


2 comentários:

Unknown disse...

a incógnita da equação é que os dois querem coisas diferentes. Um quer catapultar o nome para a PR, o outro quer algo que meta mais as mãos na massa...

a ganância do poder e dos votos ditará o bom senso, ou não, dos dois personagens em questão...

Yuppie Boy disse...

Sinceramente, não me parece que Alegre tenha a coragem de avançar sozinho e mesmo que a tenha, não vejo qualquer vantagem, para além da coerência, em fazê-lo. Continuar a criticar o PS ao mesmo tempo que se serve dele é a melhor hipótese e a que lhe abre mais portas para Belem. Alegre sabe-o e não estranharia que toda esta agitação agora seja apenas para assustar o nosso Primeiro e garantir de uma assentada mais uns anitos no hemiciclo e um "patrocinio" para a candidatura contra Cavaco.