19 de dez. de 2008

O velório do BPP

Parece que os senhores accionistas do Banco Privado Português (BPP) estão reunidos em assembleia-geral. Não é bem um velório (porque o Estado decidiu ligar a instituição à máquina…), mas bem que podia ser. O aval que o Estado (i.e. os contribuintes) concedeu ao banco de João Rendeiro é uma vergonha e absolutamente injustificado num país falido como é o nosso e onde, ainda por cima, existe uma clara situação de overbanking. Como tal, cabe a um mercado verdadeiramente livre fazer a selecção natural de quem sobrevive e de quem tem que encomendar a alma ao criador. O BPP é um caso flagrante de uma nova doutrina que tem vindo a fazer escola junto dos mercados de capitais: privatizem-se os lucros, socializem-se os prejuízos. O que é intolerável, ainda mais quando a crise afecta, sobretudo, as famílias e quem vive (ou sobrevive) do seu trabalho. As actividades especulativas encerram riscos, grandes riscos, e como tal devem ser assumidas. A aplicação de somas consideráveis em fundos altamente voláteis (segundo alguns relatos da imprensa há bancos que investem X em determinado fundo às 20h00 e resgatam as verbas na manhã seguinte) é, assim, uma faca de dois gumes. E quem estiver com a esperança de ganhar muito dinheiro, também deve estar preparado para o perder todo. Por isso é que o Estado devia ter deixado cair o BPP e com estrondo. A perturbação no sistema seria residual (dizem os especialistas). Mas já que o salvou, era bom que mudasse as regras do jogo e voltasse para cima da mesa a tributação fiscal a sério para algumas mais-valias obscenas. Ao menos não se perdia tudo…

PS: Só uma questão: mesmo depois de salvo pelo Estado, haverá mais alguém a confiar no BPP? A instituição de João Rendeiro não ficou com a imagem irremediavelmente danificada? Eu parece-me que sim... Ou então não...

3 comentários:

Yuppie Boy disse...

Caro Director, deixe-me dizer-lhe que o "seu" banco fez exactamente o mesmo, com a agravante de estar a fazer investimento qundo devia agir como banca comercial, e tambem foi salvo.

Quanto ao BPP, nem todos os activos pertencem a detentores de grandes fortunas. Há muitos, acredite que numa percentagem bastante consideravel, de trabalhadores que confiaram as suas poupanças. Grande parte destas, foi lá colocado quando o Estado diminui a atractividade dos certificados de aforro. Nessa altura, o BPP prometia uma taxa ligeiramente superior à média do mercado, nada obscena, e que nada mostrava qualquer indicio de o fim ser o que realmente se verificou. Se isto se provar, como parece que se vai provar, há fraude bancária e os clientes não devem ser penalizados por isso. O mesmo se aplica ao BPN. O Estado devia assegurar os depósitos mas não segurar os bancos... até porque, como diz, anda tudo de tanga.

Director do BPN disse...

Caro yuppie, o "meu" banco é um caso de polícia. Aliás, não é por acaso que tenho postado a partir dos calabouços da Judiciária... :)
Acredito que nem só as grandes fortunas tinham acesso ao BPP (afinal sempre eram oito mil clientes...) Mas, por exemplo, qual era o mínimo aceitável para um depósito no BPP? Os clientes não eram, certamente, os mesmos que investiam em certificados de aforro aos balcões dos CTT...

Melhores cumprimentos...

Yuppie Boy disse...

Existe uma franja significa de depositantes, com quantias "dignas de BPP" extremamente avessa ao risco. Esses clientes migraram para outras instituições quando os certificados baixaram as remunerações. Se os seus depósitos no BPP foram usados por este indevidamente em aplicações de alto risco, o caso é tão de policia quanto o do BPN. Em muito menos escala e com riscos menores, estas práticas tornaram-se comuns na banca. Já pensou porque é que numa era em que a informática está por todo o lado e há cruzamento de dados para tudo e mais alguma coisa uma transferência interbancária pode levar 48 horas? Overnights pode ser uma resposta.